sexta-feira, 28 de março de 2008

"Sem olhar nem sorrir para ninguém"

"Quanta ternura recalcada, quanto gesto de carícia e de complacência corre no gelo do silêncio e da imobilidade. Ele olha para todas as criaturas e para todas as coisas com uma profunda simpatia, mas com uma simpatia que jamais se transforma em gestos ou palavras. Às vezes tem uma vontade inenarrável de sorrir para toda a gente que o cerca, de revelar toda a sua cordialidade e toda a sua compreensão numa frase, num sorriso, num ato... Mas o espírito de análise intervém, destruidor, disseca todas as idéias e mata o gesto... Fica ecoando no ar a pergunta que os lábios não fizeram mas que a mente não cansa de formular: para quê? E depois, mais forte que tudo, a sua timidez...
E assim ele passa pela vida em silêncio, de olhos baixos, sem olhar nem sorrir para ninguém."

[Erico Veríssimo - Clarissa]

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