quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Silêncio

"Ela não está aqui" - dizia o pensamento que não saía da sua cabeça aquela noite. Helena, que desde o dia em que a conhecera, esteve sempre ao seu lado, não estava ali. Ela ia voltar, claro - os dois sabiam que iriam viver juntos por muito tempo -, mas sentia a ausência dela corroendo a sua paz.

...

Aquela noite, Eugênio chegou em casa e escutou o silêncio por algum tempo, na esperança de ouvir a voz, o barulho do chuveiro ou do secador de cabelos - qualquer coisa que indicasse a presença dela. Mas nada, silêncio absoluto: ela já tinha saído. Conseguiu, só naquele momento, sentir como ela faz parte da sua vida.
Aquele apartamento pequeno parecia gigante naquela noite. Helena sabia ocupar cada canto daquela casa com a sua alegria, sua voz, seu corpo. Agora, tudo o que Eugênio tinha aquela noite era silêncio, tédio, vazio...
Pela janela, olhava o céu preto, vazio, sem estrelas daquela noite fria. Já era tarde, todas as outras janelas que via já estavam apagadas. Todos os muitos livros da sua estante não podiam lhe dizer nada que aplacasse aquela solidão que sentia. Só podia esperar ela voltar.

Barulho de chaves na porta da frente. Seu coração, aos pulos, lhe dizia que aquela tortura chegara ao fim. Viu de novo aqueles cabelos loiros, aqueles olhos verdes. Toda a tristeza daquela noite foi embora pela fresta da porta. Para nunca mais voltar.

sábado, 22 de novembro de 2008

Ali do lado

Agora ele via que nunca mais ia poder viver sem ela. Não conseguiria viver se nunca mais pudesse ouvir aquela voz com todos os seus ésses puxados. Aquela voz cantada que embalou a sua noite, que o acompanha sem sair da sua cabeça.
Aquela noite em que tudo o que ele queria era se divertir, em uma cidade distante e sem conhecer ninguém, ele a encontrou. E quando a viu, soube que não seria mais o mesmo desde então. Aquela noite em que queria se perder, acabou se encontrando como jamais estivera em sua vida.
Agora os seus dias eram de total espera. A espera para voltar àquela cidade, àquela mulher que o conquistara. Estavam longe, sabia, mas a distância não haveria de conseguir separá-lo dela.


"...eu paro e fico aqui, parado
olho-me para longe

A distância não separabólica..."

domingo, 16 de novembro de 2008

I just wanna lose your love

E naquela noite tudo o que ele quis era ser livre. Não queria mais um amor: queria apenas viver. Queria sentir aquela leveza em seu peito para o resto da sua vida.
Já não pensava em Marinas, Isabelas, Doras ou Clarissas. Nenhuma delas existia para ele aquela noite e ele se sentia bem com isso. Era apenas Eugênio. E ele nunca estivera tão bem.

Em uma cidade estranha e sem qualquer pessoa conhecida a sua volta, ele finalmente se encontrou consigo mesmo. Agora queria para sempre aquela insustentável leveza. Queria estar preso àquela liberdade.
Mas fatalmente iria voltar, iria encontrar Marina, Isabela, Dora e Clarissa e muitas outras que vão passar pela sua vida. Iria sentir aquele peso outra vez.

Mas sempre haveria aquela cidade, aquelas pessoas desconhecidas. E ele sempre poderia voltar lá.


"...e sem que se perceba a gente se encontra
Pra uma outra folia..."

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Folhas ao vento

Veja onde o nosso caso foi parar. Somos dois velhos desconhecidos dividindo uma casa, uma cama, nada mais. Não temos mais nada em comum, somos dois estranhos.
Somos aquele olhar cheio de tédio na frente da televisão. Somos as nossas mãos que não se tocam mais, os nossos olhos que não se cruzam. Somos todo aquele desejo que murchou com o tempo, somos toda aquela paixão que morreu.

Tudo o que já tivemos nos foi levado embora como a folha seca que o vento carrega.

"...o pensamento distante para evitar a dor
o olha tão desbotado que já não distingue cor..."