segunda-feira, 16 de março de 2009

Cartas que eu não mando

Em primeiro lugar e acima de tudo, eu quero dizer que não fiz nada disso pra te machucar. Nada. Eu errei, de novo, como tantas vezes eu errei com você e você comigo.
Te ouvir no telefone com voz de choro foi difícil pra mim. Ainda mais por algo que eu sei que foi culpa minha e que eu teria que ter evitado. Aquilo me deixou mal, me fez perder o sono pensando nisso. Até agora, eu ainda não consegui tirar isso da cabeça. Eu só espero que você consiga me desculpar por causa disso e que você entenda que a minha intenção nunca foi te machucar. E que cada vez que eu te machuco, acaba doendo mais em mim depois.

E agora está doendo. A dor do arrependimento, a dor de quem sabe que fez a coisa errada. A dor de quem sabe que ainda vai errar mais.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Como um piscar de olhos

Ele fechou a mala com um suspiro. 
Estava indo embora daquele lugar que por tantos anos foi a sua casa, o seu porto seguro. Agora iria navegar, sem um rumo certo nem planos. Mas no fundo, sabia que, se precisasse, se, por uma fração de segundo, sentisse sozinho, tudo o que precisava era pensar no lugar que ele estava deixando que tudo se acalmaria. 
Não sabia se queria ir ou não, talvez não agora. Fosse há umas duas semanas, teria ido com um sorriso nos lábios e o coração batendo forte de expectativa. Mas não agora. Não depois do que aconteceu nos últimos dias. E agora, que conseguiu tudo o que mais desejara nestes últimos tempos, tem que deixar tudo pra trás. Queria levá-la consigo, de corpo e alma, mas tudo o que carregava eram as lembranças e o que sentia por aquela menina que conhecera há dois dias.
Dois míseros dias. Seus dois últimos dias naquele lugar, quando tudo o que queria era cortar os seus laços, desatar todos os nós que o prendia, ela apareceu. Ela apareceu, com aquele sorriso capaz de derreter o mundo, com aqueles olhos que pareciam que enxergavam a sua alma, com aquelas mãos leves e macias que o seguravam sem querer. Tudo aquilo acabara com a sua vontade de ir embora. Queria ficar, transformar aqueles dois dias em dois meses, dois anos, duas vidas.
Mas agora teria que ir. Com o coração apertado de quem não vê a hora de voltar, contando os passos para saber, na volta, quando estiver chegando. Queria guardar aqueles momentos como que paralisados, congelados, parados no tempo, para que, quando voltasse, pudesse continuar tudo de onde parou, como se tivesse apenas piscado seus olhos.
Levava no coração e nas fotos os sorrisos, as lembranças, os lugares e as pessoas que o faziam melhor. Levava no peito uma saudade sem tamanho do que ainda estava por perto, uma saudade que, não raro, quase o deixava sem ar. 

Levava nas mãos tudo aquilo que podia carregar e deixava ali tudo o que queria levar consigo.