terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Desde Aquele dia

E naquele quarto escuro, ele não conseguia dormir. Todas as janelas dos prédios vizinhos se apagando enquanto Eugênio, como em transe, olha para o nada sem cessar. O silêncio é tão gigantesco, tão pesado que o único som que se ouve são as batidas do seu coração em disparada: no dia seguinte seria a primeira vez que a veria desde aquele dia.
Aquele dia. Como iria olhar nos olhos dela depois de ter, enfim, tido coragem de dizê-la tudo o que sempre queria ter dito mas sempre calara. Sempre calara com medo daqueles olhos azuis e fortes, marcantes e frios, com medo daquele sorriso um tanto irônico e daquele coração gelado. Gelo que naquele dia derretera.
Como olhá-la do mesmo jeito depois de descobrir que aqueles olhos sempre o olharam com um certo desejo, que aquele coração gelado batia por ele? Como, depois de descobrir que aquele sorriso era uma senha, pedindo que ele a tocasse?
Como, agora que a sua alma se perdeu naqueles olhos, que a sua boca tocou aqueles lábios? Como, agora que mãos e corações se uniram para sempre?

E agora, como ele iria conseguir olhá-la sem tocá-lá, beijá-la, amá-la? Nunca mais conseguiria. E nem queria conseguir.

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