quinta-feira, 10 de abril de 2008

Alis Grave Nil

Ele sempre dizia que tinha um coração de pedra. Até se orgulhava disso, às vezes. Mesmo porque, ter um coração de pedra lhe era útil, uma vez que isso lhe poupou algumas horas de sofrimento e lamento. Sempre que tinha uma desilusão, o seu coração se fechava, de tal forma impenetrável, que, por mais que estivesse machucado, não lhe fazia diferença. Podia sorrir sempre que quisesse, por mais machucado que estivesse. Não sentia qualquer dor.
Após a sua última desilusão, após o seu último relacionamento fracassado, seu coração machucado se cobriu de metal e gelo. Não conseguia mais sentir de qualquer forma. Transformou-se em uma criatura sem qualquer necessidade de amor.
Até que, um dia, em um momento de fatal distração, alguém lhe acerta em cheio seu coração, quebrando gelo, metal e qualquer outra proteção que o separasse do mundo real. Ele sentiu um misto de susto, medo, alegria, dor, encantamento e, por que não?, paixão. Seu coração já havia cicatrizado de todos os cortes e quebras que sofrera, mas, graças à falta de costume, doía a cada batida.
Enfim podia sentir, novamente, as belezas e as dores do mundo de corpo, alma e coração! Tudo se tornou diferente, até o vento a soprar-lhe no rosto tinha um sentido maior. Tornou-se mais sensível à sua própria vida e ao seu redor.
Quanto à pessoa que quebrara o gelo do seu coração, amaldiçoava-a e exaltava-a. Toda vez que a via sentia de volta tudo o que sentira quando levara o golpe. Desacostumado como está, não sabia como lidar com isto. Mas agora não conseguia mais parar de pensar.


"Coração que bate-bate...
Antes deixes de bater!
Só num relógio é que as horas
Vão passando sem sofrer."
[Trova - Mario Quintana]

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